COMUNICAÇÃO

 A comunicação é ainda mais antiga que a mais velha profissão do mundo, que por estas bandas se passeia por trottoirs diversos.

Assente na necessidade da relação entre indivíduos da mesma espécie, se ela não começou com as amibas, certamente existiu entre os dinossauros, tiranossauros, e outros sauros anteriores ao Homo Sapiens.

Ainda que longo o caminho, e chegados aos dias de hoje, a essência da comunicação nunca deixou de ser a mesma. Transmitir por um código, qualquer que ele seja, uma ideia.

Aos que não têm grandes responsabilidades é-lhes permitido nos dias de hoje terem a legibilidade que quiserem. Tal, porém, já não acontece em outras situações, onde a comunicação tem um papel tão radicalmente informativo e formativo que, qualquer falha induzirá necessariamente em erro o receptor.

A comunicação não se improvisa por quaisquer corredores. Ela comporta regras próprias e estratégias bem definidas.

Veja-se o caso dos Estados Unidos. Os americanos, a quem os europeus acusam de não ter História, souberam construír os seus mitos e heróis e, como uma nova Roma, dominar o mundo pela cultura. Sim, pela cultura, desde a Time à Newsweek, depois à CBS, CNN, e por aí fora.

Desde o Plano Marshall que é patente que a emulação do Império Romano se realizou, através da imposição da cultura pela lingua em primeiro lugar, para, pacientemente se esperar por um qualquer desfecho da Guerra Fria.

Hoje apenas uma ideologia impera. A do American Way of Life, virus consumista consubstanciado quer na cultura dos Mac Donald, das Barbies, da Playboy até à Microsoft de Bill Gates e aos espectaculares efeitos especiais dos filmes americanos dirigidos por homens como Francis Ford Coppolla, George Lucas, Steven Spielberg e outros. Para não falarmos na elevadíssima percentagem de conteúdos da World Wide Web.

Claro que, como dizia uma amigo meu, não é por comer um hamburger que um chinês deixa de ser chinês, nem por comer um chau min que um americano deixa de ser americano. Claro que nada é inocente.

Contudo não pode deixar de se reconhecer o sucesso do American Way of Life incluíndo os seus inúmeros paradoxos e contradições, entre os quais ressalta o etnocídio cometido contra os ameríndios que iria originar a supremacia branca.

Em termos de comunicação parece difícil competir com os americanos. Estão devidamente municiados e experimentados em Marketing.

Olhando a comunicação de forma mais restrita e caseirinha, constata-se que vender a imagem de Macau tem sido uma quase que generalizada aposta no folclorismo colado a cuspo, tipo bacalhau com molho doce.

Sistematicamente, a etnia mais geneticamente representativa de Macau é esquecida, ou, pior ainda ignorada, omitida, originando com isso uma visão bem mais redutora da dimensão portuguesa. Em vez disso temos tido sistematicamente a mesma receita do dragão e do folclore português que realmente não existe naturalmente em Macau, mas em terras do Minho ao Algarve. É o que em Inglês se chama misleading information, exemplo acabado da incapacidade de decifrar, ou da incapacidade de saber comunicar.

Aposta-se no fácil, no exótico, e depois o povinho na Expo, que não sabe o que lhe servem, até engole a pílula que lhe é servida. Tudo déjà vu de tantas outras BTL.

Esperar-se-ia um pouco mais de originalidade. Esperar-se-ia menos bacalhau e menos molho doce. Esperar-se-ia uma temática sobre os Oceanos. O Comércio da Nau de Prata daria abundante tema para isso. Mas não. Optou-se pelo cliché das ruínas de S.Paulo. Nem os empreendimentos … Bem ao pé, excelentes obras para o futuro, como o Pavilhão da Utopia, pronto a descolar para a constelação mais longínqua, ou a magnífica obra de Siza Vieira.

Apenas se pedia um pouco de imaginação.

É que está fora do contexto, está mal representado, não obedece à temática dos Oceanos, e como já se disse, omite os macaenses. É jurássico, custou uma enormidade, e afinal comunicar é dizer alguma coisa de essencial aos outros e não ouvirmo-nos. Por muito que o sucesso de filas possa entusiasmar. Caso para dizer. Jurássico por lebre.


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