O YIN DO YANG

Há milhares de anos que vigora o conceito do Yang e do Yin, um a metade do outro, ambos formando o todo. Yang, princípio masculino, da luz e do calor, e Yin, princípio feminino,da obscuridade e do frio, completam-se na máxima de que só há luz por haver escuridão, ou frio por haver calor.


Quer este milenar conceito enunciar os princípios e a forma como se regem não só a Terra como o Universo, explicar o que já se adivinha como óbvio. Que nada está completo por si. O próprio princípio de reprodução da vida consiste na reacção entre a acção de união de uma partícula Yang com um óvulo Yin.


Diz o Tao Te Qing que quatro paredes constituem uma casa, mas é do vazio interior que depende o seu uso. Ora em terra de encruzilhadas culturais faz pleno sentido invocar a cultura e a sabedoria chinesa. Acontece pois, que o conceito de Vazio no Oriente Extremo é fertilizante, porque decorrente do espaço disponível para ser preenchido e não o vazio da derrota ou da depressão com que muitas vezes no Ocidente tal expressão se conota.

Assim, raciocinando por simpatia, chega-se, pela força da atracção, ao magnetismo. De um lado um polo positivo do outro um negativo. A energia gera-se pela circulação entre os opostos. Como se sabe elementarmente, a tentativa de colagem de dois polos magnéticos do mesmo sinal provoca uma rejeição. Leis universais apenas. Contudo, o óbvio - precisamente por o ser - é sempre o mais difícil de se entender ou assumir.


Nem sempre o homem tem sabido seguir as leis Universais, apesar de o seu próprio sistema estar em sintonia e integração com toda a Natureza.

É assim que embora domine a Natureza, nem sempre saiba como fazê-lo, destruindo-a e destruindo-se com ela. Homem predador de si próprio.

Suscitou-me este conjunto de temas de reflexão o facto de se ter, na semana passada, e em muitas outras anteriores, falado em oposição, e na sua legitimidade ou ilegitimidade. Dialética interminável pela subjectiva legitimidade de razões que às partes reconheço por ser, também esta, a ordem natural das coisas. Ninguém possui a VERDADE, e perante tal, vergo-me.


Eu, que sei pouco de pouco, apenas procuro ir buscar ensinamentos aonde eles estão.


Assim, Oposição é o complemento de Posição, bastando para isso colocar-lhe um mero O.


O que é preciso entender é que, de acordo com tudo o que se disse atrás, a inexistência de uma das componentes do todo, é contra-natura. Logo a justificação encontra-se por si, nas leis universais mais que comprovadas.

Como Takeda Sokaku ou Ueshiba Morihei, através do Daito-Ryu ou do Aikido, respectivamente, demonstram que a eficiência dos seus sistemas consiste não na acção, mas na reacção. Porque a cada acção se sucede inevitavelmente uma reacção.


Pode a acção desencadear porém dois tipos de reacção: ou adesão ou rejeição. Contudo há que perceber-se que é no plano dos actos e ideias que Posição e Oposição se deveriam sempre manifestar, em diálogo profícuo.

Admitamos por absurdo, que a adesão é conseguida graças a um qualquer processo de alteração do campo de forças de um magneto, que passa a ter dois polos negativos ou dois positivos. Pela adulteração das leis na natureza, magnetos transformados no mesmo sinal são atraídos por um dos sinais e a ele se juntam num coro monofónico.


Qualquer compositor, qualquer melómano, qualquer ouvinte sabe que a riqueza da Música está exactamente na possibilidade de esta se desdobrar em múltiplas vozes. É pois sempre na velhissima lei do equilíbro dos opostos que se cumpre a natureza.


HARMONIZAÇÃO

Vejamos por exemplo as fugas e contrapontos de Bach. O que uma partitura pode conter de contrasensos aparentes, de frases não harmónicas que, desenvolvendo-se em oposição, constroem o discurso, caminhando lentamente, cada uma reconvertendo-se à temática original, para, por fim, se conjugarem em plena harmonia.


Há, neste exemplo da música não apenas de Bach, mas de todos os compositores, a consagração do trânsito dos sons, sabendo fazer ceder à mão esquerda do piano o mesmo que à mão direita, sabendo que a cada tema lançado pela mão direita vem a correspondente resposta da mão esquerda.


É pois a Música diálogo por excelência, diálogo andante, andante cantabille, addagio, e todos os andamentos que a mestria do homem soube intuír, criando-os, cada mão tocando pelo menos três notas, acordes já de si polifónicos, convergindo para o desfecho em harmonia cada vez maior.

Do meu pouco saber tiro contudo a conclusão de que também o óbvio da música precisa de ser revisitado. É que a Música, tal como tudo na vida, não é estática. Não se prende a verdades unívocas, nem o Ré, por ser a nota preferida do compositor é por isso eleita, nem tão pouco o Mi, por ser a nota menos simpática ao compositor é preterida. Todas as sete notas, as suas bemóis e sustenidas são encaradas da mesma forma abrangente, com vista a um fim único. O de criar uma obra que tenha a grandeza de se alcandorar à posteridade.


Depois desta fugaz fuga, regressemos ao tema, em geito de desfecho.

Posição e Oposição são indispensáveis para a existência de uma partitura credível.


Saibamos todos entender a Lição da Música, da sonata à fuga, desta a uma sinfonia. O princípio é o mesmo. O do diálogo sincero, aberto, as mãos dialogando, sem exclusões que conduzam à permanente repetição da frase até à exaustão e à subsequente desafinação.


E se, como seres inteligentes, reconhecemos o óbvio da composição e da polifonia, então estaremos aptos a reconhecer que a verdade de uma partitura é o somatório de todos os elementos sem exclusões. Verdades universais elementares.

Até porque começa a ser importante ensaiar polifónicamente o final. 

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