VISITAS AO IMPÉRIO DO MEIO

 CHÁ

Dizia eu em crónica da semana passada que Macau estava "pejada de visitantes, gentes de muitas raças desembarcadas, fazendo a comparação, com preconceitos ou espírito aberto. E eis senão que, entre africanos, belgas, americanos, chineses e portugueses, num certo jantar dos muitos que houve, dois chineses, sentindo-se deslocados numa mesa de ocidentais, se mudaram para outra. Eis senão que um fino casal luso, recém-arribado, se aproxima logo, sentando-se nos dois lugares vazios, e o homem, pegando no guardanapo levemente amarrotado, se dirige em português a um empregado que passava: Eh, troque-me estes guardanapos dos macacos!


Não será, certamente, bom representante português tal personagem, a quem, ainda por cima, não tinham servido nenhum chá. Guardaria sem dúvida tão delicado palato para a uma bica, ou, talvez, um cimbalino.


Neste Império do Chá, onde a variedade é mais que muita, existirão então, na perspectiva zoológica de tão fina quão desconhecida personagem, um bilião e trezentos milhões de macacos. Nessa escala, o pobre não passará então de uma mera carraça, ou, talvez pulga ou amiba. Venha o chá rapidamente, que muita é a vergonha que outros sentem.


O que fará tal português de visita pensar que é superior? O que fará com que os Pestanas & Britos julguem os clientes pelas aparências? Bill Gates seria corrido…


LIÇÃO VITORINA

A cousa pública, como com a mulher de César, deverá estar acima de toda a suspeita. Este postulado assume um grau mais agudo e radical na prática democrática, pela aceitação incondicional e imediata das regras que o jogo da democracia impõe: Ninguém, absolutamente ninguém está acima da lei. Proclamou-o Nixon e dessa proclamação foi vítima.


Virtudes e exigências também do sistema que Portugal adoptou por livre escolha do povo.


António Vitorino sabe-o e, no momento da suspeita, assumiu na plenitude as regras do jogo da democracia, de que é exemplar e ilustre protagonista, remetendo-se de imediato ao papel de vulgar cidadão, afinal o que todos somos, até ao pleno esclarecimento da acusação de que não pagara sisa. Teve a hombridade e a decência de ser, na cultura democrática consagrada na Constituição, exemplar. Mas não foi apenas isso, a lição de Vitorino. Foi assumir o jogo dentro das regras democráticas, foi a própria eleição da democracia como sua intrínseca opção de fundo.


Agora ilibado, António Vitorino sai entrando, por cima, como lhe compete. Porque um político é o somatório de todos os seus actos. Porque já Churchill dizia You can fool some people all the time. You can fool all the people for some time. But you cannot fool all the people all the time!


A VIAGEM

Já foi amplamente noticiado que a TAP não dispensa ao primeiro-ministro nenhum avião. Contudo sabe-se também que, a transportadora nacional ainda é isso: nacional. Isto é, que ainda pertence à Nação e não a grupos privados. Que o seu dirigente máximo é nomeado pelo Governo da República, presidido pelo passageiro que se viu sem avião.


Que a TAP deixe madeirenses e açoreanos em terra sem água vai, já é hábito. Que desapareçam coisas das malas dos passageiros da carreira Macau Lisboa, já se sabe. Que as malas fiquem em Bangkok (por favor não me obriguem a escrever Banguecoque, Hongue Kongue nem Pingue Pongue) também já não espanta. Enfurece apenas. Sobretudo quando há 12 horas pela frente para avisar Lisboa, que gosta de pregar surpresas.


Mas sendo todos iguais, há uns que representando essa igualdade, reside nessa reprentatividade a diferença. Quem embarca não é o António Guterres, nem é o Senhor Engenheiro. É o mesmo primeiro-ministro que se senta à mesa da União Europeia com Kohl, Blair e os restantes. Por outras palavras, sendo passageiro o Primeiro-Ministro de Portugal, em viagem de Estado, não pode a nacionalizada empresa negar, sob razão alguma, a sua própria razão de existir, sem se entrar no reino do pesadelo.


Talvez, apenas talvez, se a Swissair já tivesse adquirido os vinte por cento, velariam os suiços pela dignidade de Portugal e pela da própria TAP.


Viaja assim Guterres de avião emprestado, coisa que o Infante, D.Manuel ou Albuquerque jamais sonhariam.


Talvez este incidente venha a dar razão ao que escrevi em crónica anterior: não se ponham os ovos todos num mesmo cesto.


Fará pois a Air Macau, as honras da casa. O que sendo recurso, sempre é o corolário do que sobre os ovos foi escrito. E que voe alto e bem, in nomine Portucalensis.


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